LUMIAR DO SERTÃO

Quarentena de 2020
Escondida por detrás daquela noite
Naquelas bandas perdidas do Saltinho
Despontava um clareado com enorme afoite
Assungando um lumiar bem de mansinho
Do alto do descampado tudo se via
Baixada grande com mata que cobria
Com subir do canto das águas percebia
Caída solta das pedras que se ouvia
No meio daquele nada tudo sentia
Baruiada de bichos que na mente enchia
Do pasto estercado o cheiro curtia
Vento fria cortava a carne que padecia
Do pequizeiro frondoso a sombra refletia
No campo rasteiro que na vista dourava
Do largo daqueles gerais a vida aparecia
O escuro da noite aos poucos clareava
Do fundo do mato o outono emergia
Com força bruta, a quentura afastava
Sentindo na pele que o querer mesmo valia
Naquela lugar que a vida começava
Na mente, o imaginário sertanejo acontecia
Erada a natureza, o pensamento amadurecia
Olhando pro vivido, o momento permitia
labuta e gozo agora em harmonia
Urutau camuflado no ingazeiro vigia
Movimento no pasto a vacada seguia
Veado mateiro amanado se via
A capoeira clareada agora surgia
Mirando pro juntado pareando a serra
Arrodiando o corpo, enorme clarão
a vida para, o tempo espera
a lua cheia desnudando o sertão