DA LIDA DE JOAQUIM DA RITA
Voltando com o filho já quase raparigueiro
Das roças de arroz do brejo plantado
Pra baixo das terras do curraleiro
Firmou olhado por muito cansado
Naquela tarde na Vargem do Galinheiro
Trunqueira justa passada
Logo debaixo do Barueiro
No lombo, ferramenta pesada
Trazido depois do acero
Cerca pronta e acerada
De terra agora bem juntada
Por de tudo abandonada
Naquelas bandas do retireiro
Gado pouco, bem tratado
Com trabalho de muito trabalhado
Leite gordo sempre tirado
Pro sustento, seja louvado
Curral pequeno, recém reguado
De Ipê e Roxim todo cercado
Com brete novo estruturado
Encarretadeira pra embarcar
Vacada Gir marcada e misturada
Uma Girolanda toda malhada
Pro Holandês mais voltada
Era dura de amansar
Bicho de chifre longo e afiado
No trato do cocho todo cuidado
Pra descuidado não ser furado
Quando rolão ia colocar
Na coberta, bezerrada berrava
Quanto a fome apertava
A noite toda apartada
Animal mugia pra entrar
Cria nova solta vem aperriada
Procurando teta enleitada
Com laço firme apeada
Vaca pronta pra ordenhar
Balde cheio bem torneado
Leite quente e espumado
Depois de todo bem coado
No latão pra carregar
Latão tampado fica pesado
Do chão de pronto é assungado
No ombro forte carregado
Pra dentro poder levar
Com morada boa e acabada
Da estrado pouco retirada
Manqueira Rosa foi plantada
Pra quando grande sombrear
Botina na porta foi tirada
No rapeiro bem rapada
Casa por todo arrudiada
Para na cozinha poder entrar
Fogão a mais de hora acesso
Com lenha seca de Umbuzeiro
Fogo forte e muito braseiro
Pra serpentina velha esquentar
Da banda de lado, largo rachado
De tanto quentado e requentado
Foi avolumando o estragado
Joaquim já tratou de barrear
Barro depois de abarriado
Vermelhão novo foi passado
Agora arrumado e encerado
Fogão erado volta brilhar
Água agora bem quentada
De tão quente é esfriada
Com água fria misturada
Fumaceira embaça o ar
Banho quente assim tomado
Com sabão bem cheirado
Casa de banheiro retirado
No tempo tem que passar
Passa de galope apressado
Com pano na cinta enrolado
Precisa muito ter cuidado
Pro rosto num poder virar
De sua avó veio o lembrado
Quando menino naquele cerrado
Que banho quente com frio tomado
Rosto virado é custoso pra desvirar
Roupa limpa e clareada
Por lavadeira esfregada
Com ferro de brasa engomada
Sopa quente pra tomar
Do canto da sala clareado
Com lampião esperto alumiado
Cheiro de querosene acostumado
Prosa alegre para desanuviar
No chegado quarto do anoitado
Assunto por todo assuntado
Com tudo de fazer já acabado
Procura leito pra descansar
Na cama agora estirado
Mirando o telhado madeirado
Com madeira forte do cerrado
Fica tempo cumprido a matutar
Matutando do feito passado
Foi matutando o labutado
Fogo de lamparina apagado
Sono vem pra derrubar
Noite madrugando no cerrado
Sono ficou profundo e descansado
Do quintal vem um coachado
Foi noitando até clarear
Angolas cantando no terreiro
Da janela ouve canto inteiro
Apruma corpo bem ligeiro
Pra café novo poder coar
Café moído e bem assoprado
Coador de pano bem lavado
Corre o cheiro por todo lado
Que o povo desperta para tomar
Dia chegando bem cabreiro
Pela manhã, frio mateiro
Da vargem vem por inteiro
Bom mesmo pra ordenhar
Broa de milho moída foi assada
Em fogo brando, ,forma quadrada
Com manteiga de garrafa foi untada
Pras beiradas não grudar
Queijo partido e bem curado
Joaquim da Rita bem prendado
Faz queijo muito arrumado
De queijeiro melhor não há
Casca grossa e amarelada
Com trincadura estralada
De amarelo maduro de cabaça
De cuitelo pronto pra tragar
Rompendo com faca o cascado
Miolo mole é logo achado
Massa de creme amantegado
Com muito furo pra respirar
Numa sentada vai uma peça
Come tanto que a gente peca
E por mais que alguém peça
Somente boa reza para parar
Todo aquele queijo trabalhado
Com o tempo ficou afamado
Por todo mundo é procurado
Põe na venda pra comerciar
Mais pra cima da entrada
Da porteira bem firmada
Venda boa foi levantada
Tem de tudo pra vendar
Balção cumprido de Sucupira
De madeira boa escurecida
Banda de porco estendida
Balança de peso pra precisar
No baleiro de vidro clareado
Da cidade grande foi comprado
Doce de leite puro e recheado
Em miúdas barras para degustar
Banana ouro no cacho pendurada
Tanto madura quanto apertada
Do quintal dos fundos era tirada
Muito passante quer comprar
Saco de feijão amuntuado
Com de arroz e fubá ajuntado
De tudo tinha um mucado
Pra quem quiser podê levar
Caderneta posta na gaveta
Escrita toda sempre feita
Com os cobres na gibeira
Freguês bom vem acertar
De tudo um pouco sempre vendia
Espelho de bolso e até presilha
De botina a muita rouparia
Venda boa de passar
Dos Gerais do Norte a Pitangui
Passando pela Estrada do Buriti
Além de carne seca, cachaça e pequi
O tal queijo do cerrado podia achar
Queijo de leite crú bem tirado
De vacada daquele cercado
No fogo brando esquentado
De segredo de família bem guardado
Tempo certo de curado
Com Joaquim da Rita no cuidado
Por mais andança neste cerrado
Noutras bandas não vai encontrar

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